O jovem corre sem sequer prestar atenção para onde estava indo, ele queria simplesmente estar longe. Longe do manto, longe da vítima, longe do homem armado. Corre por muito tempo até finalmente tropeçar e cair no chão. Fica ali mesmo, chorando e repetindo “não foi minha culpa, não foi minha culpa!”. Queria poder dormir. Queria poder terminar com aquele pesadelo. Acaba se escondendo entre alguns tijolos, provavelmente de uma casa que estava morrendo e fecha os olhos, ainda movendo os lábios de forma inaudível “não foi minha culpa”.
Algumas horas depois, decide mudar de lugar. Acredita que mantendo-se em movimento não será pego nem pela entidade assassina nem pelo homem do revólver. Poderia até achar a saída da cidade.
Deve ter se passado um dia assim, era difícil contar o tempo, até que ouviu passos ao longe. Sente suas pernas formigando. Olha pra elas e estão ficando transparentes, se dissolvendo em névoa. “De novo não, eu não quero! EU NÃO QUERO!” O manto flutua na sua frente na entrada do beco. Surreal, fantasmagórico, ominoso, dragando toda a bruma para dentro de si.
E, novamente, depois de ter sido completamente sugado, passa a enxergar através do ponto de vista do manto, do ponto de vista do assassino. Lá de dentro ele grita, tenta fugir ou se mover em outra direção, mas é tudo em vão. Desesperado, vê as mãos do encapuzado – suas mãos – perseguirem e começarem a estrangular o pescoço de outro homem, dessa vez um adolescente.
Subitamente, estampidos de tiros e dor. Excruciante dor. O homem armado havia aparecido. O rapaz tem tanto medo dele quanto tem da entidade. Um o quer morto, o outro o quer como um assassino. Mas, por algum motivo, o homem não continua atirando, apenas fica parado, olhando atônito, recitando um amplo leque de palavrões que faria qualquer linguista se doer de inveja.
O jovem sente a já conhecida vertigem, a visão turva, e logo depois volta a ter seu próprio corpo. Ele havia sido expelido pelo manto. Suas pernas ainda estão dormentes e ele grita “pelamordedeus não me mata, não é minha culpa!”
Raul guarda a arma, pega o rapaz pela gola do moleton de forma rude e diz: “eu vi que não foi tua culpa, caralho, agora calaboca e vamos vazar daqui!”
“Não me mata, por favor, não me mata!”
“Eu não vou te matar, cacete, se eu quisesse te matar já tinha matado, agora levanta, porra!”
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