27/07/2011

FEBRE


1
Guria sentada sobre um enorme balão de aniversário, abraçando os joelhos. Infinitos balões flutuando, multicores. Em cima de um deles, há um demoninho. Por mais que tente, a guria não pode vê-lo.

2
Homem diminuto corre ofegante, em pânico, sobre a superfície branca do criado-mudo. Ultrapassa o abajur branco, do tamanho de um arranha-céu. Algo está atrás dele, e vai pegá-lo. Ele tropeça na beira do precipício e cai, em câmera lenta, em direção ao impecável chão branco. Quando o atinge, ele não se espatifa, mas o chão ondula, e uma hedionda mancha negra nasce. Mancha enrugada. A sujeira, a sujeira, se espalhando pela imensidão outrora branca e imaculada.

3
O guri se levanta no meio da noite. Cambaleante, tonto, cabeça dói, ventre dói. Ele vai ao banheiro. O Estômago se revolta. Quando ele retorna, a garganta ainda machucada pelo ácido gástrico, percebe que alguém tinha decorado todo o teto da casa com bandeirinhas. Centenas de bandeirinhas coloridas de São João.

4
Ele se revira na cama, e para cada direção que se volta, vê o desenho que se repete no lençol estampado: o busto de um homem, de terno e gravata, com a cabeça explodindo em pedaços.

5
O rapaz entra num subsolo, uma longa galeria mal iluminada. Lado a lado, enfileiradas, máquinas de um desenho antiquado. Quando ele se aproxima delas, ela produzem um número. Conforme ele segue pela galeria – e ele sabe que vai ser cada vez mais difícil voltar – as máquinas ficam cada vez mais sujas, a poeira acumulando na graxa das engrenagens. E os números que produzem mais assustadores.

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