Me recordo de perceber que começaram a aparecer lampiões a óleo nos postes defronte as vitrines das lojas. Uma carroça de madeira coberta com um toldo de casimira, puxada por um homenzinho azul de jaleco se esgueirando entre os carros. Uma senhora com longos bigodes e uma sinuosa cauda de gato vendia olhos de vidro expostos num tabuleiro, parada na esquina. Mas também lembro de decidir não estranhar aquilo. Seguimos em frente, atravessando o que no princípio era um estacionamento mas agora já era uma campina, cercada por esparsos arvoredos.
Subitamente, um dragão dourado apareceu no nosso caminho. "QUEM ADENTRA EM MEUS DOMÍNIOS?" gritou em sua voz de trovão. Com sua enorme pata ele agarrou minha namorada, trazendo pra perto de sua carranca assustadora. Ela tentou se desvencilhar cutucando a patona do dragão com sua espada. Eu peguei minha funda e acertei o olho do monstro com um pedrisco. "EMPÁFIA! INFÂMIA! QUEM OUSA ME ATINGIR?" A besta, num impulso de raiva, nos arremessou pra longe com as garras livres. "É agora que vamos ser devorados" pensei.
Ilustração: Mark Jackson
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